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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Resenha: Era no tempo do rei

Não consigo mais lembrar como foi que encontrei esse livro. Ano passado comecei a fazer uma pesquisa meio profunda sobre o Rio de Janeiro no início do Século 19, quando a Família Real Portuguesa se mudou para o Brasil. Estava com ideias de um romance de fantasia e queria saber mais. Cheguei a desenhar um mapa relativamente completo da cidade na época com base nessas pesquisas, escrevi um conto (ainda não publicado) e escrevi umas 30 mil palavras desse livro. Mas acabei parando. Não desisti! Só que vieram outras ideias mais urgentes pelo caminho, então Dom João deu passagem.

Alguns meses atrás vi um artigo no site de terror Mundo Tentacular sobe o Arco do Telles e a suposta feiticeira Bárbara dos Prazeres. Era um dos temas que tinha pesquisado na época do livro (apesar dela não aparecer nessa história). O artigo (bem interessante, diga-se de passagem) me remeteu a algumas pesquisas rápidas pela internet, que me levaram ao livro dessa resenha.

Era no tempo do rei é um romance histórico escrito pelo escritor e jornalista Ruy Castro. O livro se passa justamente no Rio de Janeiro em 1810 (mesmo ano do livro que comecei a escrever) e conta a história de um jovem Pedro I e Leonardo (que se tornaria no futuro o personagem principal do romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida). Os dois garotos, na época com 12 anos, acabam conhecendo-se justamente no Arco do Telles após Dom Pedro se meter em encrencas ao fugir escondido do Paço Real.

O livro tem muito de comédia e aventura juvenil, mas está longe de ser um livro infanto-juvenil. Já vi o livro sendo chamado de ‘comédia erótica’ e, enquanto não narra nenhum sexo explícito, está cheio de coisas nada apropriadas a adolescentes (ou talvez muito apropriadas, sei lá!).

Ao longo da história fato e ficção, personagens reais e fictícios se misturam, o que torna a coisa bem interessante, especialmente se você tem uma noção sobre a época. Depois de ler o livro fui pesquisar alguns nomes e casos para ver o que era invenção e o que não era.

Agora, talvez o livro não seja para todo mundo. Ele é narrado de uma forma... digamos, curiosa. Talvez eu esteja acostumado demais a romances ‘de gênero’ onde você tem um enredo e os personagens agem em torno dele, chegando a um desfecho para a trama. Não é bem o caso desse livro. Em primeiro lugar, não existe uma trama em si. Pedro e Leonardo se metem em encrencas e ponto. As consequências dos seus atos vão sim afetar a história mais para frente, mas parece mais que os garotos estão se metendo quase sem querer em duas tramas de politicagem e sedução que não os envolve diretamente, fazendo com que outros personagens - reais e imaginados - apareçam aqui e ali para narrar seus próprios pontos de vista e dar sentido a história. O problema é que por vezes essas narrativas se tornam quase paralelas, não acrescentando em nada à história dos dois garotos, como é o casamento de de Dona Maria Teresa de Bragança e o infante Pedro Carlos de Bourbon, que vale um capítulo inteiro de desvio da trama onde narra as peripécias sexuais do neto do rei da Espanha sem em nada acrescentar ao que está acontecendo no livro.

O livro também enfia alguns parágrafos (às vezes páginas) de exposição histórica, talvez para contextualizar um leitor que saiba menos sobre o assunto. O problema é que, apesar do tom ser geralmente bem leve, ele ainda acaba vindo com uma quebra estranha na narrativa, quase que como um professor dando aula.

Se você tem curiosidade sobre este período, de está a fim da um romance bem descompromissado, vale a pena ler, especialmente porque é um livro barato (R$17,90 na Saraiva ou mais barato em sebos por aí).

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