Na minha busca pela space opera literária fui apontado por muitos para uma direção (a meu ver) controversa: a da ficção científica militar.
Segundo a wikipedia, FC Militar é aquela FC cujo foco é em "novas tecnologias bélicas", "conflitos armados" e "o ponto de vista de militares". Se você parar para pensar bem nisso vai perceber que muita coisa se encaixa desse perfil, de Starship Troopers (Tropas Estelares) do Heinlein à Old Man's War (sem tradução) do John Scalzi, passando por muita coisa no caminho. Não se fala nada aí sobre o quanto pro lado da Space Opera ou para o lado da Hard Science Fiction está esse subgênero. Então resolvi olhar minha biblioteca de livros e ver o que encontro a respeito.
De cara me vêm 3 nomes: Star Wars, Battletech e Ian Douglas.
Nesse post falarei sobre os dois primeiros nomes.
A primeira vista Star Wars não faz sentido nessa lista. É Space Opera pura, com princesas, cavaleiros com poderes mágicos, bem vs. mal, etc, mas me refiro em específico à série X-Wing, que começa com o livro Rogue Squadron e termina com Starfighters of Adumar. A série se passa alguns anos após o Retorno do Jedi e tem foco no esquadrão de pilotos de X-Wing formados por Wedge Antilles (o mesmo que sobrevive ao ataque às Estrelas da Morte e que encontra Han e Luke perdidos na neve de Hoth). Os primeiros quatro livros (e o último) são sobre o Rogue Squadron (famoso pelos video games) em missão para retomar Coruscant do Império, enquanto do 5o ao 8o livro o foco é no Wraith Squadron, uma espécie de Dirty Dozen espacial. Os primeiros foram escritos por Michael Stackpole, os últimos por Aaron Allston (que infelizmente faleceu bem recentemente).
Bom, não tem como achar que Star Wars é ficção científica hard, e a série X-Wing não foge disso. Ao longo de todas as histórias temos um esquadrão de pilotos incluindo humanos de origens diferentes e diversos alienígenas humanóides. Há jedis, planos mirabolantes, batalhas espaciais e cenários espetaculares. E nem por isso deixa de ser sério. Tanto Stackpole quanto Allston são ótimos em inserir humor nas suas obras, mas também são ótimos em construir suas tramas, tanto pessoais quanto militares. O foco, claro, é na história da recém-estabelecida Nova República e a queda do Império após a morte do Imperador e de Darth Vader.
Pulemos para o próximo nome da lista: Battletech. Esse é um caso interessante. Para quem não reconhece o nome, Battletech é um war game, um jogo de tabuleiro onde cada jogador controla diversas unidades militares. A principal arma de guerra desses exércitos são os battlemechs, basicamente robôs gigantes.
Acho que essa frase acabou de dar visões de desenhos japoneses para muita gente. Calma. Apesar do foco nessas robôs gigantes e o fato de que o jogo original foi inspirado no animé Macross / Robotech (a ponto de ter acontecido um processo famoso a respeito da imagem de alguns battlemechs), tanto o jogo quanto os livros seguem uma direção diferente. Por exemplo, já ouvi falar em Mechwarrior? Esse é conhecido pelos video games (e, um pouco menos o RPG). Mechwarrior nada mais é do que o nome do piloto de um battlemech. Ou seja, é tudo a mesma coisa.
Acontece que Battletech tem uma série gigantesca de livros. São para lá de 100 romances publicados. Eu devo ter um pouco mais da metade deles, praticamente todos ótimos. E uma coincidência interessante? Michael Stackpole, nosso amigo da série X-Wing, foi por anos o escritor principal da série. Era dele o papel de decidir os grandes eventos do universo Battletech e escrever os romances que tratavam dos líderes dos governos e as grandes viradas, como declarações de guerra, assassinatos de generais, invasões, etc.
Bom, então Battletech é uma FC militar mais para a Space Opera, não? Robôs gigantes, Casas nobres, invasores do espaço profundo, mercenários...
Não. Vamos começar com o fato de que não existe alienígenas em Battletech. Bom, existem animais alienígenas aqui e ali, mas, fora um livro (Far Country) onde aparecem pterodáctilos inteligentes em um planeta distante e um dos livros de RPG que fala de homens-macaco primitivos em outro (ambos desconsiderados pela maioria esmagadora de fãs), a raça humana é a única espécie autoconsciente do universo.
Além disso, a tecnologia também respeita em muito certas premissas de FC Hard. Não existe viagem mais rápida do que a luz. Bom, mais ou menos. A viagem entre sistemas estelares é feita pelas Jumpships, naves enormes (e extremamente frágeis) que não viajam entre estrelas, mas dobra o espaço, ligando dois pontos (a até cerca de 30 anos-luz de distância), fazendo com que a nave passe de um ponto a outro sem realmente se mover. O processo é absurdamente custoso, tanto que Jumpships precisam de dias ou semanas paradas perto de estrelas locais com suas velas solares abertas para recarregar suas baterias. Mas não é só isso. Depois de saltar, é preciso ir do ponto de salto (fora da elíptica do sistema) até o planeta desejado em um outro tipo de nave, o que pode levar semanas.
Outra tecnologia que em muito lembra a Hard FC é a comunicação entre sistemas estelares. Não existe ansível, a "tecnologia mágica" que permite comunicação instantânea a qualquer distância. Existem raras estações usadas para comunicação entre planetas e sistemas, o que demora e é sempre caro. Essas estações são tão importantes que, durante a recente série Dark Age um ataque coordenado destruiu diversas dessas estações pela Esfera Interna (o espaço mais próximo do Sistema Solar), deixando dezenas de sistemas estelares incomunicáveis.
Temos algo misto aí, então? Talvez.
Sexta-feira volto com um novo post falando sobre Ian Douglas, o grande nome da Ficção Científica Militar Hard atual (ou não).
Envio duas partes para análise:
ResponderExcluirhttp://sarracena.blogspot.com.br/2011/12/mundos-paralelos-capitulo-7-74.html
Continuação:
http://sarracena.blogspot.com.br/2012/01/mundos-paralelos-capitulo-7-75.html