Continuando a série de artigos sobre a Space Opera aventuresca, ainda na FC Militar, faço um desvio de rota para a indústria de jogos. Tecnicamente pode parecer que estou roubando. Não exatamente. Talvez porque jogos eletrônicos tendem à space opera (pelo foco na ação em grande parte deles), é relativamente fácil encontrar FC militar pendendo para a Space Opera entre os livros baseados em jogos (o que remete a OUTRO artigo que escrevi semanas atrás, sobre esse tema).
Poderia falar descaradamente de mim mesmo: trabalhei como responsável pelo conteúdo do jogo Taikodom por quatro anos e escrevi dois romances inspirados no jogo (o primeiro, Despertar, lançado em 2008). MAS foi poupá-los da propaganda gratuita. Vou falar primeiro o que me levou a amar ficção científica, e do legado que surgiu em 2012.
Em 1990 foi lançado o jogo Wing Commander, em que você, o jogador, era um piloto recém formado na Academia da Confederação Terrena, enviado para lutar no front de uma guerra contra o Império Kilrathi. Não há nada mais space opera do que um jovem piloto enfrentando hordas de homens-tigre pilotando caças especiais. Wing Commander fez muito sucesso ao longo dos anos 90, tendo diversas continuações e jogos paralelos (como Privateer e Wing Commander: Armada), um desenho animado, dez livros e um filme baseado na série (mas adaptado devido a questões contratuais com a Electronic Arts, detentora da propriedade intelectual).
(Curiosidade rápida: a partir de Wing Commander 3 a série substituiu desenhos animados por atores reais. Entre os atores estavam Mark Hamill no papel do protagonista, Malcolm McDowell como Almirante Tolwyn e Tom Wilson como o piloto Maniac).
Entre os livros, cinco deles contavam histórias de personagens do jogo em missões secretas ou em momentos diferentes da história, preenchendo buracos na história e detalhando eventos apenas mencionados no jogo que deu muita importância à história e aos personagens que acompanhavam o jogador nessa jornada. Foi End Run, romance que ligava a história do segundo e terceiro jogos, que me tornou um ávido leitor de ficção científica. Nele, uma corveta de reconhecimento descobre um planeta pertencente à família real Kilrathi, o que leva a Confederação, neste ponto apanhando feio na guerra, a enviar grupos de ataque rápido atrás das linhas inimigas. A premissa não é nova: é a mesma do segundo livro da série Star Carrier de Ian Douglas e da série Dauntless de Jack Campbell. Mas a apresentação torna o livro extremamente divertido, especialmente para quem jogou os jogos e reconhece alguns dos personagens, como o protagonista, que aparece em uma das expansões de Wing Commander 2 como líder de um motim.
Mas, apesar de seus muitos fãs, Wing Commander morreu quando o último jogo foi lançado gratuitamente na internet por volta do ano 2000. Chris Roberts, o criador da série, deixou a empresa (e a propriedade intelectual) após a mesma ser comprada pela Electronic Arts. Roberts então abriu sua própria empresa, Digital Anvil, onde lançaria mais dois jogos no mesmo estilo: Starlancer, inspirado em termos de história e arte na Segunda Guerra mundial, e Freelancer. Ambos tinham toques de Space Opera, apesar de excluir as diversas raças alienígenas.
A história se repetiu. No mesmo ano 2000 a Microsoft comprou a Digital Anvil e Chris Roberts resolveu se aposentar da indústria de jogos para trabalhar como produtor de cinema em Hollywood.
Então veio 2012 e a nova esperança (pelo menos para os fãs de Wing Commander e Freespace). Chris Roberts abriu uma nova empresa (Cloud Imperium Games) e anunciou dois jogos: Star Citizen e Squadron 42, respectivamente sucessores espirituais de Freespace e Wing Commander. Voltava o tema da força militar humana enfrentando raças alienígenas diversas, todas (por enquanto) humanoides. Da mesma forma que Wing Commander e Starlancer foram inspirados na Segunda Guerra Mundial, Star Citizen é inspirado em outro momento histórico: a queda do Império Romano.
"Beraldo, não era um artigo sobre literatura? Isso é tudo jogo!"
Ah, caro leitor, mas aí é que está. Da mesma forma que Chris Roberts investiu na criação de um mundo detalhado que rendeu livros para Wing Commander, fez o mesmo com Star Citizen. Desde o anúncio dos dois jogos (atualmente o jogo que mais recebeu dinheiro em financiamento coletivo, no momento dessa publicação mais de 42 milhões de dólares), a empresa lançou gratuitamente histórias serializadas em seu site, e começou bem com duas séries extremamente pulp na forma, estilo e conteúdo: Cassandra's Tears (com as intrépidas aventuras de um piloto militar nada convencional) e Tales of Crimson Kid (com um típico mercenário com um passado duvidoso, ao estilo noir). De lá para cá diversas novas histórias foram lançadas no site, todas no melhor estilo Space Opera aventuresca, da destemida exploradora espacial em busca de uma nave-colônia perdida ao conflito de uma família dinástica.
Será que Chris Roberts voltou não só para ressuscitar o gênero dos simuladores espaciais e os jogos para PC, mas também a space opera aventuresca?
Vale a pena conferir o que já está no ar no site da empresa.
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