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quinta-feira, 24 de abril de 2014

FC Militar, parte 5

E vamos lá para a última parte da série de posts sobre Ficção Científica Militar! Confesso que o assunto durou mais do que eu esperava. Acho que, de certa forma, isso é um indício de que existe muita FC Militar por aí (e talvez pouca space opera no sentido aventuresco do termo).

E falando em ter muita coisa por aí, esse post foca na publicação, digamos, informal. Há alguns anos, com o surgimento dos ebooks e a abertura de grandes sites como Amazon e Barnes & Nobles para autores independentes, que o mercado tem sido inundado com novos livros. São em sua grande maioria obras que não passaram por revisão ou edição. Eu mesmo tenho minha curiosidade sobre esse mercado que ainda é fraco no Brasil, mas é extremamente forte "lá fora". Vou mencionar dois casos específicos aqui que tem a ver com a FC Militar.

Já ouviu falar de B.V. Larson? Pois então. Larson é um professor norte americano que até por volta de 2010 escrevia livros didáticos e tinha pilhas de livros e contos de ficção rejeitados por dezenas de editoras. Segundo ele em várias entrevistas, ele chegou a vender um conto ou outro para revistas de pequena circulação, mas nunca conseguiu passar certas barreiras.

Então em Junho de 2010 Larson resolveu revisar um de seus livros e colocá-lo à venda na Amazon. Não parou nele: até o final daquele ano ele já tinha mais de dez livros no site. O resultado? B.V. Larson está na lista dos Top 100 autores mais vendidos da Amazon.com. Hoje já tem mais de 30 livros publicados independentemente e (segundo ele) uma média de 10.000 unidades vendidas de cada livro (ou seja, 300.000 livros vendidos e contando).

Larson escreve de tudo, mas o foco parece ser na FC Militar. Seu primeiro livro, Swarm (primeiro da série Star Force), narra a história de um soldado abduzido por alienígenas que estão sistematicamente testando espécimes em busca de alguma coisa. Quem falha em seus testes, morre. Mas o protagonista continua sobrevivendo. A série trata da chegada de um império alienígena que tenta conquistar a Terra e o papel do protagonista em impedir esse evento. Começa com cara de filme da Sessão da Tarde, mas ganha um formato épico bem ao estilo Space Opera, mas sempre dentro do perfil da FC Militar.

Depois dessa série, Larson lançou outras no mesmo perfil. E faz sucesso. Segundo ele seu sucesso é mais resultado de inundar o mercado com livros diversos do que necessariamente pela qualidade do seu trabalho. Ao que parece leitores que gostam do seu trabalho (que não são poucos) acabam buscando mais livros do autor. Por existirem opções, eles compram mais. Ou seja, B.V. Larson não tem necessariamente um grande número de fãs como muitos autores consagrados, mas sua produção (que em grande parte parece ser resultado da revisão de manuscritos antigos que não foram vendidos a editora alguma) acaba por mantê-lo muito bem, obrigado.

Mas B.V. Larson pode ser considerado um caso muito específico, resultado da enorme quantidade de livros publicados em pouco tempo (não desmerecendo a qualidade do seu trabalho, que pessoalmente acho que varia bastante). Então vamos para outro caso.

Marko Kloos é um alemão que mora nos EUA. Pai de duas crianças, é "dono de casa" enquanto a esposa trabalha fora. É também um dos mais bem-sucedidos autores independentes de FC Militar na Amazon.com. Marko conta que sempre gostou de escrever, mas viu na situação de estar em casa todo o tempo cuidando das filhas pequenas a oportunidade de colocar as ideias no papel. Já lançou quatro livros desde o início de 2013 e, segundo ele, já ganha o suficiente para desconsiderar qualquer possibilidade de ter um emprego fixo. Seu primeiro livro é Terms of Enlistment, uma FC Militar um pouco diferente, mesmo sendo bastante familiar.

No primeiro livro da série, o protagonista é Andrew Grayson, um jovem de um subúrbio pobre americano em 2108 que se alista no exército em busca de cidadania (e melhores condições de vida). A primeira metade do livro trata do seu treinamento e primeiras missões. A diferença fica no fato de que o "destino" de Andrew não é se tornar um grande herói e partir para a frota espacial como ele desejava, mas sim ser colocado na reserva, cuidando de rebeliões e manifestações armadas na Terra. Não vou dar spoilers sobre a série, mas digo que até o final do primeiro livro ele vai para o espaço e começa a se aventurar em outros mundos, mas não do jeito que esperava. O livro passa uma sensação mais "hard" do que "space opera", talvez pelo foco maior no conflito na Terra. Em certo ponto eu mesmo questionei se a tecnologia usada pelos soldados de 2108 não parecia demais com a tecnologia dos dias de hoje.

O primeiro livro de Marko Kloos é um exemplo perfeito do efeito da autopublicação. É um livro bom com boas ideias, mas que poderia ser bem melhor com um editor profissional. Você esbarra com capítulos inteiros que soam desnecessários. Um editor provavelmente cortaria 3 ou 4 deles, juntaria um ou outro, e tornaria as coisas mais enxutas. O problema é que vez ou outra há uma sensação de que a história perdeu força, o que arrisca entediar o leitor.

Kloos mencionou em uma entrevista recente que recebeu uma proposta de lançar sua série por uma editora tradicional, com livros impressos. Assinou o contrato, mas manteve os direitos eletrônicos. Vai continuar ganhando seu salário com a produção independente, mas agora alcançará um público maior. Espero que a editora o ajude nessa questão da edição dos livros.

Uma olhada pelas categorias de ebooks de ficção científica da Amazon.com dá uma boa ideia do que está sendo produzido por esses autores independentes. No momento em que termino de escrever este post há mais de 69.000 obras de ficção científica à venda na Amazon americana. 21.100 delas estão catalogadas como "aventura", 6.900 como "space opera". Curiosamente apenas 791 estão catalogadas como "Galactic Empires", um dos elementos comumente associados à space opera clássica. Além disso, há 4.900 "militar", mas uma olhada na aba "space opera" revela uma quantidade esmagadora de FC militar como Ender's Game, Old Man's War e mesmo os livros de B.V. Larson. Há, ainda, os livros de FC Militar de outro autor autopublicado, Christopher Nuttall, de quem não li nada ainda. A série Ark Royal de Nuttal é bastante elogiada na internet.

Lembrando que a categorização de ebooks da Amazon.com não é excludente. Cada livro pode estar em duas ou três categorias ao mesmo tempo.

Ao que me parece o que não falta é FC militar não-hard na Amazon.com.

Talvez haja mais coisas que eu não tenha abordado ao longo desses 5 posts. Não duvido. Como disse desde o início, isso aqui é baseado nas minhas leituras e na minha busca pela Space Opera contemporânea. Você conhece algo diferente na FC Militar que vale olhar e que não foi mencionado ainda em posts ou nos comentários? Me conte mais. Mesmo que eu não tenha a chance de ler, vai que algum outro leitor do blog resolve seguir seu conselho?

Semana que vem vou dar um pulo na Space Opera audiovisual, começando pelos filmes.

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5 comentários:

  1. Você chegou a procurar por livros de FC militar na Amazon Brasil?

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  2. Por algum motivo obscuro o sistema de categorização da Amazon Brasil é sofrível comparado à Amazon.com. Está tudo em "literatura brasileira" ou "literatura e ficção" (seja lá o que isso significa).

    Uma pesquisa por "ficção científica militar" mostra alguns livros, muitos com capas terríveis que dão a impressão de amadorismo. Pesquisando "space opera" encontro os livros e contos da Editora Draco, da série Space Opera, e alguns livros em inglês na tal New Space Opera. E só.

    Por enquanto não li nada da Amazon Brasil que fosse autopublicação. Você já leu? Aceito sugestões!

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  3. JMberaldo, leia Morte em Dezembro, é autopublicação.

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  4. Obrigado por indicar o seu livro, Ivair, mas ao que parece não é space opera. É um techno thriller, correto? Mesmo que o mistério da história envolva alienígenas e abduções, não é o foco dessa análise (O que não desmerece seu livro!).

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