Bom, acho que quem acompanhou o que eu escrevi nas últimas semanas sabe que eu não concordo com o rótulo "New Space Opera" que anda sendo usado nos últimos anos. E não sou o único. Alguns anos atrás a escritora Elizabeth Moon fez a mesma crítica no forum da SFFSignal.com. Como já falei em outro post, segundo ela "New Space Opera" é só um termo inventado por editores britânicos para categorizar um número de obras recentes de autores britânicos. Ou seja, é puro marketing.
Leviathan Wakes é bom. Mas está extremamente longe do que era "Space Opera" ao ponto de que me pergunto "por que diabos alguém chamaria isso de New Space Opera"?
Explico: O enredo gira em torno de um futuro próximo, cerca de cem anos no futuro, quando a Humanidade já se espalhou pelo Sistema Solar (e só). Existe uma divisão política clara entre Terra e Lua, Marte e os belters (os povos semi-independentes que vivem no Cinturão de Asteroides e além). A história é narrada pelos olhos de dois personagens: um terráqueo meio idealista que trabalha como segundo no comando de uma operação de mineração de gelo no espaço, e um belter que atua como policial no planeta anão Ceres. No início há dois enredos: o primeiro protagonista encontra uma nave vazia à deriva logo antes da sua "nave mãe" ser destruído por naves não-identificadas, e o segundo é contratado para localizar a filha do executivo de uma corporação da Lua enquanto lida com um revoltas em potencial em Ceres. Obviamente logo fica clara uma ligação entre as duas narrativas.
A história cresce e muito. Inclui o conflito entre corporações toda-poderosas, experimentos científicos ilegais, mercenários armados à margem da lei, transhumanismo e, o principal, a vida valendo pouco em comparação aos avanços científicos da época.
Pode ser impressão minha, mas isso parece bastante com a premissa clássica do Cyberpunk.
Então resolvi fazer uma proposta! Criar um novo rótulo! Não, eu não acho que vá pegar. Não estou nem aí.
Esqueça "New Space Opera". Leviathan Wakes e muitos outros não são isso. São outra coisa.
São Spacepunk.
"Ah, vá! Spacepunk?"
Bom, faz sentido. Essas histórias têm um que de cyberpunk. É muito diferente? Bom, lembra do clássico monólogo do Rutger Hauer em Blade Runner? Blade Runner é cyberpunk puro, e fala de outros planetas, outros sistemas estelares, mesmo que jamais os vejamos. (Na verdade há lá indícios de que Blade Runner, Prometheus, Aliens e, por consequência, Predador, estão todos no mesmo universo ficcional, mas isso é assunto para outro papo).
Para mim Leviathan Wakes e tantos outros são o resultado do futuro próximo de um mundo Cyberpunk. Demos o passo além, saímos da Terra, aceitamos novas tecnologias, mas os conceitos continuam os mesmos. A diferença maior talvez seja que o foco agora é no espaço e não em um planeta com gravidade próxima a da Terra. Total Recall original é Spacepunk? Não. É Cyberpunk. Se o foco da história fosse em naves espaciais, estações, asteroides, etc, talvez fosse. Nesse espírito Elysium também é Cyberpunk.
Pesquisei o termo na internet. Encontrei um jogo de corrida, um tumbler sobre moda e um sujeito se referindo a "Spacepunk" como uma estética (visual) que remete à ficção científica dos anos 40 e 50, mas até onde eu sei isso é FC Retrô. (Você não adora essas categorizações?)
Então acho que "Spacepunk" está vago.
"Pô, mas pra que isso?"
Em primeiro lugar porque faz mais sentido chamar esse gênero de Spacepunk do que New Space Opera. Em segundo porque abre espaço para que a New Space Opera seja o que deveria ser: uma evolução do gênero de aventuras espaciais, impérios galácticos, caçadores de recompensas, tiroteios em tavernas espaciais e trocentas raças alienígenas nada cientificamente corretas.
Faz sentido para você?
Faz sentido. Algo assim como a saga "Mundos Paralelos".
ResponderExcluir