Sexta-feira passada aconteceu um daqueles momentos tão aguardados que, não importa a preparação, na hora te deixa sem saber como agir: meu livro Império de Diamante foi lançado. É um lançamento soft ainda, primeiro em e-book, mas já está disponível em todas as Amazons e na Livraria Cultura! Weee!
Então pensei: qual a melhor forma de falar do livro de um jeito que seja útil para quem acompanha o blog?
No Construindo Mundos, é claro!
Em artigos anteriores, falei sobre a criação da propriedade intelectual para um video game. Costumo ser contratado para desenvolver essas coisas, de forma que existem parâmetros e expectativas de um cliente. Quando se cria um universo ficcional seu a coisa é um pouco diferente. Seus clientes ainda não existem. De certa forma você tem liberdade total, o que pode ser extremamente assustador. Diga-se de passagem, o artigo que originalmente ia ao ar hoje era exatamente sobre como a liberdade pode ser ruim para sua criatividade. Mas fica para outra semana, porque o negócio agora é falar sobre Reinos Eternos!
“Reinos Eternos” é um nome novo. Novo mesmo. Fechei ele com meu editor tem umas duas semanas. O nome original, só “Eternos”, não tinha apelo nenhum. Era genérico. Fica aí mais uma lição: dê nomes que digam alguma coisa, mas que ainda sejam distintos o suficiente para serem lembrados. Virou uma questão de discutir o produto e pensar no futuro. “Reinos Eternos” faz sentido. Na série cada livro mostrará um lugar no mundo, e todos, de alguma forma, estão entrelaçados ao conceito da eternidade.
A vontade de escrever a série veio em meados de 2009. Já trabalhava na Hoplon como responsável pelo conteúdo do Taikodom havia 2 anos e neste tempo escrevi dois romances para a empresa. Estava entregando o segundo quando senti que precisava de algo diferente. Não fazer mais ficção científica não era uma escolha, afinal era meu trabalho. Mas eu podia usar meu tempo livre, antes ocupado em escrever Despertar e Dogma, para escrever algo diferente.
Defini algumas premissas. Eram elas:
- Um mundo de fantasia, mas não de alta magia;
- Podem existir outras “raças”, mas nada de elfos, anões e hobbits;
- Deve existir um esforço para explicar cientificamente tudo que existir.
Defini, também, algumas referências:
- The Black Company e continuações, do Glen Cook;
- Imaro, de Charles R. Saunders;
- A série Thieves’ World, organizada pelo Robert Asprin;
- A Song of Ice and Fire do George R.R. Martin (isso foi BEM antes de virar moda!).
Quem diabos desenha o mapa de um mundo que nem sequer foi criado ainda? Eu, aparentemente. Rabisquei continentes, coloquei nomes semi-aleatórios. Criei fluxos populacionais, origens, destinos... Eu queria criar fantasia, mas queria criar uma fantasia que fizesse sentido. Poderia, sim, existir outras raças, mas só se fossem plausíveis. Nada de deuses vindo à terra e criando civilizações inteiras da noite para o dia!
Deuses...
Isso ficou na minha cabeça. Muitos livros de fantasia têm deuses como elementos importantes. Mas eu estudei História na faculdade e lá aprendi que a História não é só o que está escrito, mas sim quem a escreveu, quando e porquê. E existem pontos de vista diferentes de tudo.
E se cada um desses lugares tivesse uma visão diferente sobre deuses, magia, monstros, crença...? E se existe uma explicação plausível para tudo, mas ela fosse visível apenas após se observar tudo de vários ângulos diferentes, como compor uma imagem através de diversos pontos de vista?
O mapa ganhou mais anotações: nomes de raças "RPGísticas" começaram a ser substituídas por conceitos novos. Culturas, reinos, povos. O fluxo começou a fazer sentido. Dois mil anos atrás o Império de Diamante surgiu no continente de Myambe. Guiado por um (suposto) deus-vivo, ele conquistou e assimilou todas as culturas no seu caminho. Aqueles que resistiam, morreram ou fugiram. O nascimento do Império de Diamante foi como vento soprando dentes de leão: as sementes se espalharam pelo mundo. Refugiados, famílias reais, bem ao estilo da Família Real Portuguesa na nossa própria história, partiram para colônias distantes. Criaram o Mundo Renascido (não o mesmo, mas uma versão dele).
E como funciona a magia nesse mundo? Meu primeiro instinto foi criar um sistema para cada “história”. Já estava pesquisando as referências culturais e tendo ideias que não batiam: espíritos da natureza sussurrando no ouvido de oráculos, necromantes falando com os mortos, pessoas nascidas com poderes mágicos, baterias de mana, imortais...
Tive um estalo. E quanto ao conceitos de pontos de vista diferentes? Faria sentido aqui? Seria possível? Seria, claro! Juro que ri quando me toquei de como tudo poderia fazer sentido com um único sistema de magia visto de forma diferente por culturas diferentes.
Destaquei pedaços do mapa. O que antes eram ideias de subcenários de RPG se tornaram produtos independentes, livros com temas e direcionamento. Era questão de escolher um para trabalhar, detalhando tudo o que fosse necessário.
Escolhi o início mais óbvio: Myambe, o continente do Império de Diamante. Que melhor lugar para começar que não o aquele que deu vida a todo o mundo?
Semana que vem falo especificamente da criação do mundo do primeiro romance da série Reinos Eternos: Império de Diamante. Até lá!
Bah, esse sistema de magia baseado em pontos de vistas diferentes me deixou intrigado e curioso para descobrir mais como funciona!
ResponderExcluirContinue fazendo esses posts sobre a série, estou gostando bastante.
Abraços!
http://desbravandolivros.blogspot.com.br/
Semana que vem tem mais ;)
ResponderExcluirO sistema não é exatamente baseado em pontos de vista, mas culturas e crenças diferentes entendem e usam o mesmo sistema de magia de formas totalmente diferentes. O que inicialmente pode parecer uma zona tem toda uma justificativa se você olhar pelo ângulo certo ;)
Abs
interessante
ResponderExcluirA editora Draco publicou um artigo com as minhas 5 principais influências ao escrever Império de Diamante. O texto complementa o que disse aqui no Construindo Mundos:
ResponderExcluirhttp://blog.editoradraco.com/2015/02/top-5-joao-beraldo/