Todo produto é feito de inspirações, sejam elas conscientes ou inconscientes, claras ou discretas.
Em 2015, quando Império de Diamante saiu pela Editora Draco, a mesma pediu que eu escrevesse para o site deles um artigo falando sobre as 5 principais inspirações para o livro.
Em 2016 Último Refúgio e Laicus saíram, e eu acabei não fazendo o mesmo para os dois, então, quem tal começar agora?
Aqui estão as 5 maiores inspirações para Último Refúgio.
1 - A Índia Mítica e a Índia Real
Quem conhece um pouco da Mitologia Hindu sabe que, diferente de outras mitologias mais tradicionais, ela traz elementos que muito lembram histórias de ficção científicas. São veículos espaciais, armas de destruição em massa, planos de existência paralelos e raças vindas de outros mundos.
Último Refúgio engloba tanto alguns dos elementos mais conhecidos, como rakshasa e devas, como outros menos usuais que não vou contar para não dar spoilers.
Existe muita coisa na história da Índia que é pouco conhecido do público ocidental, das civilizações mais antigas do mundo à formação de diversos reinos, o surgimento do Budismo, a chegada do Islamismo, a unificação, a colonização forçada pela Europa...
Último Refúgio pega pedaços dessa história e a reconstrói de uma forma única. Uma companhia mercantil da distante Akanisha chegou justo em um momento em que o Grande Reino Infindável sofria com uma grande catástrofe. Sua chegada é só o estopim do conflito social entre a casta governante e as demais.
2 - A África Antes e Agora
Império de Diamante foca na resistência de um povo à força incansável do deus-vivo; Último Refúgio foca na vida dos descendentes dos refugiados da guerra anterior, quando a Dinastia Melkat caiu e refugiados - guiado pelo Último Oráculo - chegam a seu novo lar. Os problemas que eles enfrentam lá, tanto sociais quanto financeiros, refletem muito do mundo de hoje.
Mangbetu é o nome de um povo africano e também de uma casta de aristocratas de um antigo reino no centro do continente. A história é escassa, mas sabe-se que em algum momento séculos atrás eles começaram a conquistar outros povos da região ao ponto de tornarem-se uma ‘casta superior’ acima das demais. Mas o que mais chama atenção dos Mangbetu são sua visão de beleza: desde pequenos as crianças têm suas cabeças amarradas para que elas cresçam alongadas. Cabeças estreitas e longas são consideradas muito atraentes. Esse senso de estética - e, mais longe, o de modificação corporal como cultura - inspirou a criação dos nativos de Último Refúgio, os enigmáticos Panjek.
3 - H.P.Lovecraft
Não sei dizer quando li o primeiro conto de H.P.Lovecraft, o criador do mito de Cthulhu que quase 100 anos após sua morte continua presente na cultura pop em diversas formas. Sei que até hoje tenho 6 antologias de contos dele e de seus companheiros de escrita ou fãs profissionais sobre o terror obscuro e opressivo dos Elder Gods.
As histórias de Lovecraft foram uma forte influência em diversos aspectos de Último Refúgio, tanto nos elementos mais óbvios quanto nos mais discretos. Não entrarei em detalhes para evitar spoilers, mas quem conhece o trabalho de Lovecraft perceberá as diversas inspirações.
4 - New Weird
Não falta discussão sobre o que é ou não é New Weird, um gênero que mistura fantasia, terror e ficção científica, inspirada nas antigas histórias de terror dos anos 30, trazido ao mundo moderno cheio de anacronismos, como a burocracia da vida moderna em cidades medievais onde magia e tecnologia arcaica se misturam.
Seja Último Refúgio New Weird ou não, sua criação foi inspirada em livros como Perdido Street Station e City of Saints and Madmen.
5 - Os Githyanki de D&D
Nunca escondi que joguei muito RPG na minha vida, especialmente Dungeons & Dragons, e com certeza foi o RPG que me fez querer começar a escrever, mesmo que eu tenha sempre na minha carreira fugido do tradicional elfos-anões-orcs-dragões.
Mas existe um elemento de D&D que eu usei pouquíssimas vezes em RPGs, mas que me inspiraram na criação dos panjek e o Reino Infindável: os Githyanki e os Githzerai
No universo de D&D, os Githyanki são conquistadores psíquicos que viajam entre os planos de existência saqueando e conquistando tudo que está pelo caminho, pois acreditam-se superiores a tudo e a todos. Os Githzerai são um ramo dividido da mesma espécie, xenofóbica, sem muitos dos desejos de conquista dos irmãos saqueadores.
A aparência deles também sempre me interessou e, até certo ponto, também inspirou a aparência dos panjek.
Quarta que vem eu posto as inspirações para Laicus!