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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Processo criativo ou Por que diabos você está falando em torta?

Esses dias conversando com a minha esposa eu comentei que ia colocar no meu currículo que eu cozinho bem. Pensei até na frase: Gosto de testar receitas clássicas para, então, criar as minhas próprias.


É uma mania que eu peguei anos atrás quando fui morar em Lisboa e que voltou depois que me casei. Cato receitas na internet, descubro como elas são feitas, então faço minhas próprias versões.


“Peraí, Beraldo. Eu vim aqui para ler sobre game design/rpg/literatura fantástica, não sobre seu dotes culinários!”


Ah, meu caro leitor, mas aí é que está a coisa. Depois que eu fiz a piada sobre meu currículo, enquanto tentava fazer uma torta de maça (podem começar a fazer piada, mas ficou bom pra cacete), comecei a divagar sobre o fato de que realmente a mesmíssima frase se aplica ao meu lado profissional.


Vamos pensar num exemplo simples. Peguemos um jogo qualquer (seja video game, rpg, tabuleiro, cartas, etc). Imaginem alguma regra básica desse jogo, alguma coisa que todos estão tão acostumados, até porque ela é usada também em outros jogos. Agora tentem subvertê-la de algum jeito. Alterem alguma coisa, mudem-a de contexto.


Também funciona com narrativas (livros, quadrinhos, filmes, jogos). Existem vários especialistas que dizem que só existem x número de enredos e que absolutamente todas as histórias jamais contadas são versões e combinações desses enredos (x porque o número varia de especialista para especialista).


Mais uma vez me toque da ligação entre as três paixões profissionais que me levaram a criar este blog. Você escritor que já pensou sua própria versão de uma história que você leu, mas poderia fazer melhor. Você jogador de RPG que fez uma regra própria baseada no seu sistema favorito (convenhamos que essa é a premissa básica do d20!). Você game designer que criou o mais novo runner da App Store. Todos vocês fizeram a mesmíssima coisa que eu costumo fazer na cozinha.


Momento de introspecção. Insight: é tudo a mesma merda!


“Mas Beraldo, porque eu estou lendo você divagar?”


Aí é que está. A grande questão, aquela que levou ao insight, é que muita gente acha que ser criativo é fazer algo além do seu tempo. É inovar pela criação de algo esdrúxulo. Acha que tem que tirar a ideia do vácuo, quando isso não existe. Tudo, absolutamente tudo, é resultado das suas experiências (que são resultado das experiências dos outros e assim por diante). Ser criativo é saber pescar essas experiências e adaptá-las ao produto (seja ele um livro, video game, aventura de RPG ou o almoço de domingo). A partir do momento em que você entende como as coisas funcionam, sabe o que se espera e o que se deseja, você é capaz de inovar.


Não, vou mais longe: espera-se que você inove.


Ninguém quer mais do mesmo, mas, ao mesmo tempo, a mudança assusta. Sabe aquele papo do "além do seu tempo"? Às vezes tudo o que você precisa é trocar a camisa.


Tá, não vou falar de moda, juro. O que importa é que é tudo a mesma merda.


Pegue uma história de romance água com açucar. Pesque aquela aventura de invadir a masmorra e matar o dragão. Baixe um tower defense genérico. Ou vá no açougue e compre um bom pedaço de maminha. Entenda o que faz essa coisa que você escolheu funcionar. Por que as pessoas gostam? Agora pense como ela poderia ser diferente.

Depois me conte o resultado.

Um comentário:

  1. Perfeito. Acredito nisso em gênero, número e grau.
    Em tempo: eu tb adoro cozinhar e subverter receitas. Até meu café expresso tem pimenta. As pessoas adoram e não entendem :D

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